Cegos querem garantir uso futuro de carros autônomos nos EUA
Anil Lewis estava dirigindo seu Ford Mustang conversível em um dia ensolarado em Atlanta, em 1988, quando quase atropelou uma pessoa que apareceu na faixa de pedestres na frente dele, aparentemente saída do nada.
Foi nesse momento que Lewis percebeu que sua visão deteriorada em breve o impediria de dirigir. Agora, aos 53 anos e legalmente cego, a perspectiva de criação de veículos totalmente autônomos dá a ele esperanças de voltar às ruas por conta própria.
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"Isso se os veículos forem projetados corretamente, se forem acessíveis", disse Lewis, diretor-executivo da Federação Nacional de Cegos Instituto Jernigan, que trabalha para desenvolver tecnologias e serviços que ajudam os cegos. "Eles criarão uma capacidade de locomoção que atualmente não existe."
A revolução dos carros autônomos é promissora para uma parcela da população que pensava que nunca mais conseguiria dirigir um veículo: os cegos.
Defensores do total estimado de 1,3 milhão de pessoas legalmente cegas dos EUA, e outros milhões de pessoas com outras deficiências, se uniram a fabricantes de automóveis e empresas de tecnologia para fazer lobby no Congresso para ajudar a estimular a implantação dos veículos autônomos.
Nesta quarta-feira, uma comissão na Câmara dos Representantes dos EUA analisa a primeira legislação sobre carros autônomos e os defensores dos cegos têm preocupações especiais: eles querem que a acessibilidade seja incorporada ao design do carro e que os estados evitem a aprovação de leis que proibiriam os cegos de um dia sentarem no banco do motorista.
Eles se posicionam contra o paradigma regulatório e setorial que pressupõe que os motoristas enxergam a rua à sua frente. As autoridades e as empresas que trabalham em veículos totalmente autônomos - que ainda estão a muitos anos de serem disponibilizados de forma generalizada - estão só começando a enfrentar os novos desafios de garantir que os cegos possam se beneficiar da tecnologia, e já surgem alguns obstáculos.
Alex Epstein, diretor sênior de estratégia digital no Conselho de Segurança Nacional, afirma que a tecnologia dos veículos autônomos ainda tem um longo caminho a percorrer para chegar aos veículos sem volante ou pedal de freio e à remoção do motorista da equação.
"Em teoria, o conceito é uma ideia maravilhosa", disse Epstein. "A questão é como a indústria automotiva e a indústria tecnológica chegarão a isso."
A visão das indústrias automotiva e tecnológica sobre as frotas de táxis robôs poderia melhorar o acesso ao emprego e à educação, há muito tempo uma das principais prioridades políticas da Federação dos Cegos, disse o porta-voz da entidade, Chris Danielsen.
O grupo está preocupado com políticas estaduais que poderiam limitar o acesso dos cegos aos veículos autônomos no futuro.
Os veículos autônomos que não exigem intervenção de um motorista humano apresentarão novos desafios em termos de política nos estados, que devem ser resolvidos para garantir que os cegos e os demais deficientes possam tirar o máximo de proveito da tecnologia, disse David Strickland, conselheiro da Coalizão de Carros Autônomos para Ruas Mais Seguras e ex-diretor da Administração Nacional de Segurança Rodoviária dos EUA (NHTSA, na sigla em inglês).
"Nós vamos passar de um modelo no qual as pessoas são motoristas para um modelo no qual as pessoas serão passageiros", disse ele.
"Acabaremos segregando os deficientes no que diz respeito ao uso dessa tecnologia se as leis de licenciamento não forem alteradas."
Fonte: Exame